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A Arte do Encontro: Pensando a psicanálise fora do tradicional consultório


Minha trajetória profissional possui dois caminhos paralelos: Clínica Psicanalítica e Psicologia Hospitalar. Quando me deparei, ainda na faculdade, com a realidade do hospital, ficava muito inquieta, buscando fundamentos para meu trabalho. Encontrava-me diante de um ambiente totalmente diferente do confortável e tradicional consultório.


Trabalhei 20 anos em hospital e agora também estou atuando na área de Reprodução Assistida, outra área que muitas vezes precisamos fazer um atendimento mais pontual, oferecendo uma escuta qualificada em um momento tão delicado e repleto de expectativa. Nem sempre temos a chance e a oportunidade para realizar um tratamento analítico.


Atenta ao meu dia a dia nas consultas diárias ao lado do leito, no corredor, no ambulatório ou em Clínica de Reprodução, percebo como uma breve atuação, para além do divã, pode trazer ganhos significativos para o paciente. Não tenho intenção de grandes mudanças psíquicas, mas acredito que estes encontros são espaços em potencial para uma ampliação do conhecimento sobre si mesmo, e ativação de certos recursos psíquicos que possam ajudar o paciente a lidar com o momento vivido de forma mais estável.


O analista deve estar atento e trabalhar constantemente em sua “capacidade de rêverie”, estando aberto a sonhar o sonho do outro, estar junto verdadeiramente, como uma mãe em sintonia harmônica com seu bebê.


Ao lidarmos com pacientes que estão vivendo uma situação traumática, se encontrando desorganizados psiquicamente, muitas vezes não conseguindo colocar em palavras suas emoções, torna-se necessário estabelecer um canal com o paciente, onde ele se sinta compreendido, por meio de uma linguagem envolta de emoções, em um ambiente seguro em que ele possa acreditar em si e produzir novos significados. Um espaço de escuta e fala é por si só terapêutico.


É importante reforçar que, mesmo trabalhando com pouco tempo e com uma postura mais ativa, devemos respeitar o tempo de cada paciente e se preocupar em não ter uma postura intrusiva, estando aberto ao que o paciente possa nos oferecer naquele momento, atentos à singularidade de cada relação.


Acolher, despertar novos significados, buscar ampliar o conteúdo que está sendo dito e devolver da forma como o paciente suporta naquele momento são um dos objetivos do nosso trabalho. Buscamos que o paciente saia de cada encontro se sentindo mais compreendido e acompanhado em sua dor, tendo uma maior capacidade para lidar com as dificuldades atuais.


Desta forma, acredito que é papel do analista ter uma postura ativa e convocadora no sentido de poder oferecer ao paciente continência emocional, emprestar representações, emoções, pensamentos e significados, proporcionando-lhe uma nova experiência emocional organizadora de sentido e favorecedora de conhecimento.

 
 
 

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