‘Três estranhos idênticos’: um documentário que vale ser visto
- Juliana Venancio
- 26 de nov. de 2021
- 2 min de leitura
Assisti “Três Estranhos Idênticos” (Netflix, 2018) por indicação do meu grupo de estudos sobre Parentalidade e Reprodução Assistida. Para mim, o documentário foi um tanto perturbador e decidi dividir com vocês algumas ideias.

O filme é sobre três adolescentes que se encontram por acaso e descobrem que são trigêmeos idênticos separados no nascimento. Logo ao nascerem, foram separados e entregues à adoção para três famílias diferentes a fim de serem objetos de um experimento de observação com variáveis controladas.
A pesquisa tinha como objetivo avaliar de que maneira a genética influencia no desenvolvimento de gêmeos que crescem em ambientes socioeconômicos distintos.
Surge a grande questão: O que tem mais impacto? Genética ou ambiente? Somos moldados pelo social ou é o DNA que determina quem iremos nos tornar?
No início, o documentário alimenta o sonho que a genética idêntica produz seres semelhantes. Percebemos que os personagens, estranhos idênticos, contaminados com a euforia do encontro e com o efeito do fascínio causado, se esforçam para encontrar identidades, tornando ainda mais parecidos, apesar de serem perfeitos desconhecidos.

Ao longo da trilha, vamos nos dando conta que estas são apenas semelhanças físicas, superficiais, sem muita importância, e as diferenças subjetivas entre eles vão aparecendo e constituindo o cerne da questão. Apesar da semelhança física, eram pessoas individualmente diferentes, levando-nos a pensar na importância dos vínculos e afetos que vivenciamos ao longo da vida, principalmenteom nossos pais.
Quanto a se pensar....
No documentário, os irmãos acabaram virando celebridades, um fenômeno midiático na década de 1980, o que nos leva a refletir sobre o fascínio que os gêmeos causaram na época. Eu, sendo mãe de gêmeos, sei bem como é isso. Quantas vezes fui parada na rua para verem minhas filhas, fazerem perguntas. Algo desse duplo convoca nosso olhar e provoca fascínio. Quais fantasias despertam no imaginário das pessoas?
Podemos pensar no encantamento que a fusão nos produz, uma ilusão de completude, imagem de amor, da alma gêmea, do duplo, um espelho vivo, despertando a fantasia de ter sempre alguém ao nosso lado, acalmando o medo da solidão.

Ao cuidarmos de gêmeos, devemos ficar atentos para não cairmos nessa armadilha, e poder tratar as crianças como indivíduos diferentes, a partir de uma observação cautelosa, respeitando seus ritmos, abrindo espaço para a expressão de sua singularidade, permitindo-os ser!
O documentário desperta muitos debates éticos e morais e intensas emoções. Passeamos pela alegria do reencontro, surpresa, decepção, raiva, tristeza. Provocou-me extremo desconforto e indignação ao imaginar essa separação, o uso de indivíduos para fins de pesquisa, o ocultamento e mentira em nome da neutralidade científica e por não terem considerado o elemento traumático dessa observação. Quantas consequências psíquicas causadas nesses rapazes a fim da ciência? Até onde podemos ir? Qual limite da ciência? Uma questão muito atual.

“Ciência sem consciência não passa de ruína da alma.”
(François Rabelais, séc. XVI)
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